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Passo a passo de um processo de reestruturação

Um processo bem estruturado de Restruturação pode ser definido como um conjunto de estratégias e abordagens eficientes e pragmáticas para lidar com problemas financeiros ou situações de crise, os quais podem incluir:

  1. Revisão dos processos produtivos;
  2. Reorganização interna, podendo incluir a troca da alta gestão e a profissionalização de empresas familiares;
  3. Mudança na estrutura de capital da empresa;
  4. Busca por liquidez dos ativos não essenciais;
  5. Renegociação de dívidas com credores, entre outras medidas. 

Seu objetivo consiste em criar um plano de ação que permita à empresa superar a crise, restaurar sua saúde financeira e continuar operando de maneira sustentável.

Estes processos são assessorados por especialistas no assunto, tais como consultores ou assessores financeiros, que trabalham em estreita colaboração com a empresa para desenvolver e implementar estratégias adequadas às suas necessidades específicas. 

Em suma, vamos apresentar a você como o processo de reestruturação é uma ferramenta indispensável para empresas que enfrentam problemas econômicos e buscam uma saída para essa situação. Acompanhe!

Como identificar os sinais de uma crise financeira?

A identificação precoce de que a empresa perdeu a sustentabilidade de resultados é crucial para a tomada de medidas corretivas a tempo de evitar problemas mais graves.  Os sinais mais claros são:

  • Fluxo de caixa negativo: A empresa, de maneira recorrente, busca empréstimos bancários para suprir a necessidade de caixa ou falha no pagamento de suas obrigações.
  • Resultado negativo por períodos consecutivos:  A empresa apresenta prejuízo ou não consegue repetir os resultados de períodos anteriores por um ou dois anos consecutivos.

Etapas de um Processo de Reestruturação

Se a crise econômica é detectada, como as empresas devem se organizar para implantar um processo de reestruturação exitoso?

Para esta pergunta não há resposta simples ou fórmula a ser seguida indiscriminadamente, pois cada empresa é um organismo vivo que responde de forma única a cada ação implementada por seus gestores em função do seu porte, setor da economia, localização geográfica e nível de governança instalada.

Em mais de 30 anos assessorando empresas a atravessarem períodos de dificuldade financeira extrema, acreditamos que planos de ação — que tem por base um diagnóstico operacional, financeiro e estratégico; com planejamento de caixa; execução e monitoramento contínuo —devem ser implementados por todas as empresas independente da sua situação financeira. Entretanto, para que sejam efetivos, precisam ser permeados por fatores-chave de sucesso para superar esta fase, dos quais destacamos 6 principais que estão presentes em todos os casos de sucesso:

  1. Liderança;
  2. Tomada de decisão informada;
  3. Liquidez;
  4. Equipe;
  5. Foco da geração de Valor da cadeia produtiva;
  6. Assessoria técnica independente.

1. Liderança

Não existe um tipo ideal de liderança abrangendo perfil, competências, habilidades e atitudes. Diferentes tipos de CEO podem ser igualmente efetivos nos resultados esperados dependendo do perfil da empresa e a situação em que ela se encontra. Assim um CEO com bom desempenho em tempos de abundância e crescimento da economia pode perder efetividade quando há uma restrição de recursos e de fragmentação da forma de trabalhar. Nestes casos, é recomendável a contratação de um CEO interino, conhecido como Turnarounder ou CRO (Chief Financial Officer).

Liderar equipes é sempre um grande desafio, especialmente em tempos de diversidade. A ideia central a ser absorvida pelo CEO é que embora a crise econômica tenha sido inevitável, crises secundárias derivadas de reações inadequadas podem ser evitadas. Desta forma as decisões devem ser tomadas visando o bem geral da empresa, dos acionistas e dos colaboradores.

Três pilares sustentam esta ideia:

  1. Confiança: a pressão pela velocidade das decisões demanda confiança dos acionistas, executivos e colaboradores em relação às ações do CEO. Desta forma, cabe a este estabelecer um estreito relacionamento de forma a acalmar e encorajar todos na empresa, com o apoio tanto no trabalho como em casa, assegurando a união necessária para a execução de uma estratégia vencedora.
  2. Capacidade de se adaptar a novas situações: as mudanças empresariais provocadas pela COVID-19 aceleraram o processo de transformação tecnológica, mudaram o modelo de negócios, as relações sociais e trabalhistas, aumentaram a imprevisibilidade e volatilidade dos cenários econômicos e transformaram os espaços de trabalho (home office). Diante deste cenário, o CEO precisa promover as mudanças necessárias para garantir a perenidade da operação. O estilo de liderar também necessita de rápida adaptação para um estilo mais diretivo e centralizador capaz de orientar e apaziguar os ânimos na empresa.
  3. Resiliência: Em um cenário de crise e/ou de grandes transformações no modelo de negócio, os resultados projetados podem não se realizar no período esperado. Não raro a empresa pode amargar longos períodos de prejuízo até conseguir reverter o resultado.

A despeito da adversidade de uma situação, o CEO deve manter toda a organização engajada para que os colaboradores possam desempenhar suas funções da melhor forma possível, vislumbrando que a recuperação econômica da empresa é possível.

2. Tomada de decisão informada

Os indicadores de desempenho (KPIs) são a melhor forma de embasar as decisões estratégicas de negócio desenvolvidas sobre objetivos de longo prazo.

Ao contrário de tempos normais, a estratégia em tempos de crise deve estar voltada para aumentar as defesas da empresa para sobreviver a tempos difíceis. Aqui vale a máxima: “prepare-se para o pior esperando que o melhor aconteça”.

Isto só é possível quando as decisões são tomadas em um centro de operações de crise, com informações colhidas no menor lapso de tempo possível, e decisões são implementadas de forma rápida e precisa. Este centro de operações deve ser liderado pelo CEO e contar com um núcleo pequeno de formadores de opinião capazes de debater e formular diferentes pontos de vista, que levem a decisões mais inteligentes, sem sacrificar a rapidez.

Por sua vez, o centro de operações deve ser suportado por um núcleo de informações capaz de colher informações relevantes para a tomada de decisão.

As ações provenientes deste núcleo de operação de crise não podem renunciar a recursos importantes para a retomada do crescimento e perenidade da companhia. Desta forma, colaboradores, fornecedores estratégicos e stakeholders em geral devem ser poupados o máximo possível, pois serão cruciais no futuro.

3. Liquidez

Quando os resultados são ruins ou negativos, o acesso a novas linhas de crédito é difícil, assim é importante tomar as seguintes medidas:

  • Planejamento e controle do caixa
    Mais do que nunca, o caixa é o coração da empresa e os gestores têm que ter como foco diário a sua geração, alocação e manutenção.
    Comitês de caixa são recomendados para apoiá-los em análises de rentabilidade e definição de ações de contenção de despesas. A retomada das atividades irá requerer capital de giro que não pode depender unicamente de bancos ou outros agentes financeiros sob o risco de não ser sustentável e a imprevisibilidade do caixa custa caro.
  • Rentabilização dos ativos
    Sob as perspectivas que se apresentam, o tamanho da operação está adequado ao seu mercado? A disponibilidade de caixa está em linha com a operação? Existem ativos que não são rentáveis ou são dispensáveis?
    A readequação da operação (resizing ou downsizing) é uma forma de otimização dos recursos que visa priorizar as linhas de produção / produtos mais rentáveis com consequente redução de despesas e transformação de ativos não rentáveis em caixa.
    Uma operação leve, mais eficiente e com liquidez permite movimentos oportunísticos de mercado ou junto a fornecedores e credores.
  • Realinhamento do endividamento
    O caixa é único e tem que atender aos diversos tipos de credores cuja dinâmica de negociação dependerá do tipo de garantia que detêm e o volume de sua exposição. Ao final, deve-se buscar um compromisso da empresa com uma geração de caixa desafiadora, mas possível e um alinhamento de vencimentos de acordo com este fluxo.
    A negociação coletiva, ou seja, reunindo os principais credores geralmente traz mais benefícios do que prejuízos. Em alguns casos, quando o alinhamento não é perfeito, mas envolve pelo menos 51% de credores de mesma natureza, pode ser utilizado o mecanismo de Recuperação Extrajudicial conforme estabelecido pela Lei 14.112/20. Este acordo é submetido ao juízo e uma vez aprovado obriga os demais credores que não aderiram inicialmente à negociação.
    Diferente de uma Recuperação Judicial, em princípio, não há um procedimento de habilitação de créditos e não é exigida comprovação de regularidade fiscal. Caso a renegociação não se revele suficiente, a empresa pode ajuizar recuperação judicial a qualquer tempo.
    O zelo com o caixa é essencial para um plano de retomada ser vitorioso e envolve o alinhamento com stakeholders (credores financeiros ou operacionais), preservação da liquidez e a readequação da operação frente às perspectivas de retomada do mercado.

4. Equipe

O que dissertamos até aqui demanda um modo de agir que precisa ser rápido e que envolva toda a empresa de forma coordenada.

Dentro da cadeia de comando, as ações determinadas pelo centro de operações de crise precisam de uma equipe empoderada com capacidade executar e de tomar decisões dentro da autoridade que lhes foi delegada, e discernimento para levar aos níveis hierárquicos superiores apenas os problemas mais difíceis, para obterem direcionamento ou aprovação.

Toda a empresa é o somatório dos talentos individuais que a compõem e eles serão fundamentais para superar a situação e acelerar a retomada da empresa. Quanto maior a capacidade de retê-los maior a probabilidade e velocidade de sair da crise.

5. Foco da geração de valor da cadeia produtiva

Os processos de reestruturação de empresas envolvem três de soluções:

  1. a empresa supera a crise e o acionista continua à frente da empresa;
  2. a empresa supera a crise, mas um novo acionista assume o negócio pois o antigo acionista não dispõe mais de condições de ficar à frente do negócio, porque não possui o capital, Know-how ou credibilidade requerido para gerir a empresa, às vezes estes elementos combinados, e
  3. a empresa não possui mais condições de se manter competitiva e irá encerrar suas atividades.

Estes três cenários possuem como tema central a capacidade da empresa de se manter como um elo relevante na cadeia produtiva do seu setor. Cabe a cada companhia implementar todas as mudanças necessárias para se reafirmar como alguém que é relevante para fornecedores, clientes, bancos, etc., atendendo às suas necessidades.

Ao reafirmar-se dentro da cadeia de valor as empresas precisam se conscientizar de uma questão que está rapidamente se tornando vital. A empresa precisa reafirmar seu compromisso com a comunidade onde opera, demonstrando através de atitudes que se importam com seus clientes no aspecto geral e não apenas como consumidores.

6. Assessoria técnica independente

Empresas são feitas para serem perenes e ao longo de sua trajetória irão construir uma cultura que moldará a forma de gerir os negócios e como se apresentarão ao mercado e consumidores. O comportamento de acionistas e executivos refletem a experiência e o conhecimento que acumularam ao longo dos anos.

Ou seja, empresários e executivos são especialistas em seus mercados e não em reestruturação. Na verdade, nem deveriam, afinal as crises agudas não representarão mais que um ponto ao longo de sua história.

Assim sendo, é muito valioso, poder contar com uma assessoria técnica experiente para coordenar e implementar iniciativas internas e junto a credores como por exemplo, renegociação com fornecedores, adequações no portfólio de produtos, adequações na linha de produção, captação de recursos financeiros, alavancagem dos ativos existentes, readequação do capital de giro, atração de investidores ou outras.

Nesta fase os acionistas e executivos se beneficiarão do auxílio que assessores financeiros, operacionais e jurídicos darão na condução da tomada de decisão estratégica e do dia a dia.

A presença destes assessores no centro de operação de crise evitará que decisões operacionais que fariam sentido em tempos normais, mas ineficientes em tempos de crise, sejam tomadas e irão recomendar outras tantas que atenuarão a gravidade e o tempo da crise.

Ter uma condução firme e apoio de profissionais especializados em crise para colocar em execução um plano de ação desafiador, prover liquidez, realinhar credores para readequar o negócio não é só desejável, mas de extrema relevância para a tornar a travessia desta crise mais segura e bem sucedida.